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Sociedade - O Metropolitano e o Funil

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 28 de novembro de 2010 · 4 mins read
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Numa tentativa de agregar alguns textos antigos, aqui fica alguns que estavam presentes num antigo blogue meu:

Desmentir uma Verdade Social - A pureza de uma sociedade que erra pelo que está certo e sente o que está certo por pensar erradamente

Aqui fica o segundo: #002 - O Metropolitano e o Funil

[Sábado, 3 de Novembro de 2007] ** #002 - O Metropolitano e o Funil**

No artigo passado demonstrei como é possível ter grandes ideias (apesar de não demonstrar nenhuma muito importante) quando se viaja de Comboio, neste artigo vou mostrar como é que o Metropolitano pode-nos servir para tirar as mais variadas conclusões sobre o comportamento social.

Quando viajamos de metro (metropolitano), principalmente no Metro (Metropolitano de Lisboa), se formos pessoas atentas e estivermos predispostos a apenas observar o que se passa em nosso redor, conseguimos entender muita coisa sobre o quotidiano das pessoas que por ali passam. Neste artigo vou referir-me um pouco às decisões aleatórias e diferenciáveis no tempo, de acordo com o género social de um indivíduo. Dentro destas escolhas, por vezes algo estranhas, estão incluídos determinados comportamentos que podem deixar algo a desejar e que demonstram um certo carácter egoísta do ser humano. Claro, tudo isto baseia-se apenas numa opinião pessoal de um certo elemento da sociedade que gosta de estar atento e observar o mundo que o rodeia.

Tudo começa quando decidimos que a nossa hora chegou e partimos direito ao Metro, para nos dirigirmos para casa. Dependendo da hora, tal cenário pode ser mais ou menos intenso. Desde modo, iremos iniciar a nossa viagem antes de passarmos o bilhete para entrar no recinto da estação. Até aí poderemos dizer que estamos felizes, depois daí o futuro o dirá. Para começar, os efeitos das escolhas aleatórias/não pensadas demonstra-se logo a passar o bilhete. Geralmente existem no mínimo 3 passagens para o interior perto de cada escada, uma para pessoas com malas e carrinhos (que serve os dois sentidos) e cada uma das outras serve para um sentido. Como tal, estas passagens têm uma indicação superior luminosa vermelha/cruz para sentido proibido e verde/seta para sentido corrente. É o primeiro facto que é difícil ler… Geralmente o que acontece é, primeiro, as pessoas por mais passagens que tenham livres no sentido em que podem ir, tendem sempre a ir para a de carga, mesmo que esta esteja impedida e, pior ainda, deixam quem realmente tem carga, ficar para trás… Maioritariamente é o que acontece pelas minhas observações, de facto, fazer uma estatística palpável era interessante. Como se não bastasse esta decisão estranha de tentar forçar uma passagem, segue-se o facto que as pessoas tendem sempre a ir para a passagem mais próxima da saída que querem, mesmo que esta esteja completamente cheia de gente, deixando passagens a 50 cm antes livres, mas tapadas por uma afluente de gente que não se decide. O outro pormenor, é o ignorar da sinalização luminosa (não há desculpa para não a entender)… Uma pessoa sozinha enganar-se é aceitável, não reparou, algo diferente será ver um conjunto de pessoas a reclamar porque não conseguem passar por ali… E, como senão bastasse, pensam que é o passe que está avariado e, como há tendência a associar pancada a arranjos, inicia-se uma luta física, de contacto extremo, entre o passe e o sensor. Quando eu nunca tive de tocar com o passe no sensor, nem bater para que ele fosse reconhecido… isto porque, por norma, vou para as saídas certas.

Passado o momento das passagens de entrada, segue-se o caminhar para a linha. Aqui não há grandes problemas, excepto quando há pessoas que vêem duas escadas rolantes que ligam o mesmo sítio, mas uma desce e outra sobe, tentam ir na escada contrária ao movimento que pretendem fazer… (sim, já vi uma pessoa (e outras tentarem) subir umas escadas quando estas desciam, porque a seta indicava direita, mas esquecem-se de reparar que a seta indica direita “na linha”, não as escadas rolantes da direita). Nas escadas também se consegue ver coisas como pessoal andar a parar assim do nada, porque querem procurar o batôn ou porque lembraram-se dos anos de um amigo. Também há as outras que à procura das coisas mandam com a mala a quem passa.

Quando pensamos que tudo fica melhor, chega a espera da composição, que é sempre agradável. Independentemente da posição em que estamos, perto ou afastados da linha, quando começa a chegar mais e mais gente elas vão-se colocar SEMPRE frente a nós mais próximo da linha… Mesmo que nós já la estejamos há horas e carregados com bagagens. Depois, mesmo que estejam mal posicionadas, quando chega a composição, tendem a empurrar e a resmungar muito por causa dos que já lá estavam… O que não deixa de ser interessante e cómico.

Dentro das carruagens, a conversa é outra, é a luta pelos lugares… Mas o mais interessante é que quando vai alguém menos dentro da normalidade, um hippy, um gótico, um punk, um sem-abrigo ou outro, os lugares ficam vazios e ninguém se senta, mesmo que, a velhinha seja muito coxa ou tenha mesmo que haver alguém a ocupar os lugares. Depois quando, alguém, por acaso, ocupa o lugar, começam a fazer expressões estranhas que afugentam até o Pai Natal.

Por fim, a sair a história repete-se, só que em sentido inverso…

Daniel Bento

PS: “Boas Viagens” no Metropolitano de Lisboa

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma