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Na certeza de quem sou

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 20 de setembro de 2019 · 2 mins read
Na certeza de quem sou
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Sento-me na cadeira, frente ao computador. Tenho vontade de escrever, mas não sei como, sou atravessada por uma série de pensamentos, de ideias, desilusões e mal estar. Um mal estar profundo, um mal estar que não me deixa pensar de forma estruturada, que não me deixa pensar com início e fim, apenas pensar e desiludir-me, apenas pensar e querer gritar mais alto. São gritos que vêm de dentro, do meu profundo estar. Da minha eloquência de existir. Tristes e não conformes com a realidade do mundo em que pertenço e em que vivo. Porque não quero este mundo, quero outro.

Manifestação feminista fez história em 1975

Sinto-me desiludida por fazer tão pouco.
Sinto-me desiludida por gritar tão pouco.
Sinto-me tão desiludida por tolerar demais.
Sinto-me desiludida por não chocar mais.

Sinto-me desiludida.

A cada dia que passa, penso mais na importância de estar na frente, de dizer não ao pacto com o sistema, viver fora dele, abandoná-lo
    Porque não o quero, não de todo.
A cada dia que passa, mais a convicção que este mundo não merece, não de todo.

A cada dia alguém morre, a cada dia, mais uma vítima da violência
    Patriarcal,
    Machista,
    Sexista.
A cada dia mais uma pessoa vítima directa ou indirectamente,
    física ou psicologicamente
    num sistema que promove a violência, o mau trato - o destrato.
A cada dia mais alguém que desaparece, que nos deixa.
A cada dia, mais uma de nós.

Digo uma de nós com a certeza de quem sou.
Digo uma de nós com a certeza de quem são as pessoas.
Digo uma de nós com a certeza de que nós somos as principais vítimas deste sistema.
Digo uma de nós com a certeza de que nós somos as armas da revolta
    da revolução e da criação de um mundo novo.
Digo nós, mulheres e todas as identidades não hegemônicas.
Digo nós, todas as que não se revêem neste sistema.
Digo nós, todas as que lutam pela sobrevivência.
Digo nós, todas as que empatizam com a dor da outra.

Digo nós, porque a revolução faz-se para todas…
Digo nós, porque a revolução é para o sistema destruir.
Digo nós, porque a revolução é para um novo mundo criar.
Não acredito na esperança,
Não acredito na boa vontade,
Não acredito na bonança,
Acredito na luta,
Acredito no cuidado,
Acredito.

Porque esperança é parar,
Porque boa vontade é ignorar,
Porque bonança é sonhar.

Aqui, hoje e sempre. Em luta.
Num amor construído para a revolta,
Num amor construído para um novo mundo.

Dani

Imagem: Manifestação feminista fez história em 1975 [Fotografia: Arquivo DN]

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma